Escola Aú Capoeira

HISTÓRICO

Texto: Serena Capoeira (Paola Franco)
A Escola Aú Capoeira, tem sua proposta pedagógica    fundamentada no conceito educativo transdisciplinar como um conceito norteador de seu trabalho, teve seu início objetivamente, pode-se dizer com o término do Grupo Aú Capoeira, no ano de 2004 (ver página “Mestre Pop Trajetória”). No entanto, pode-se também afirmar que a mesma teve início já na década de 1970, quando mestre Pop aprende capoeira, em Campo Grande. Isso porque, enquanto capoeirista, sempre buscou não ficar preso física e ideologicamente a uma única vertente de capoeira, e vem nestes mais de 38 anos de prática buscando se renovar a cada dia enquanto mestre e aprendiz (ver página “Mestre Pop e a Transdisciplinaridade”).http://aucapoeira.blogspot.com.br/p/mestre-pop.html
De fato, no entanto, a proposta de uma escola de capoeira com a finalidade a qual a mesma apresenta atualmente, se dá em meados de 2007, três anos após o término do Grupo Aú. É após mestre Pop passar um tempo sem bandeira institucional, e amadurecendo seus anseios para a sua capoeiragem e aquilo que gostaria de difundir para o mundo da capoeira, que decide antão criar a Escola Aú Capoeira.
Ao encerrar com o Grupo Aú Capoeira, alguns de seus antigos alunos buscaram outros grupos, outros montaram seu próprio trabalho, e outros permaneceram com mestre Pop mesmo sem bandeira institucional. Atualmente, portanto, a Escola Aú Capoeira é formada por estes que iniciaram sua trajetória com mestre Pop ainda no trabalho do Grupo Aú (e que hoje já colhem frutos com novos instrutores) e de outros que aderiram à Escola Aú Capoeira, mais recentemente, a partir de 2007. A Escola Aú Capoeira vem desenvolvendo seu trabalho objetivamente nas cidades de Florianópolis e São José, ambas em Santa Catarina – Brasil, e também no exterior, nas cidades de Auckland (Nova Zelândia), Kuala Lumpur (Malásia) e mais recentemente em Sidney (Austrália). Paralelo a isso a proposta e filosofia transdisciplinar para a capoeira vem sendo difundida por mestre Pop e pelos seus discípulos nas diversas redes sociais e em eventos, palestras e outros meios de comunicação existentes.

VISÃO TRANSDISCIPLINAR

O conceito de transdisciplinaridade é relativamente recente e surge com a finalidade de compreensão do mundo presente. O termo apareceu pela primeira vez no Seminário de Nice, realizado na Universidade de Nice (França), em 1970. Diferente da interdisciplinaridade e da pluridisciplinaridade, que dizem respeito, a primeira à transferência de métodos de uma disciplina para a outra e a segunda ao estudo de um objeto de uma mesma e única disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo, a transdisciplinaridade transcende as disciplinas e diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. A transdisciplinaridade, por mais que faça uma análise para além das disciplinas em si, não é um conhecimento antagônico a elas, pelo contrário, o conhecimento transdisciplinar passa pelo disciplinar.
O pensamento cartesiano e mecanicista  típico da ciência moderna que tudo ordena, separa e distingue, fez com que a quantidade de conhecimentos específicos crescesse cada vez mais nas ciências em geral. Porém, a  atitude de separar o objeto de estudo de seu entorno faz com que se perca o sentido do contexto e todas as interações que esse objeto produz no meio em que está inserido. Neste sentido, cada vez mais se fica distante do conhecimento das relações entre as partes de um todo, ou entre os elementos de um sistema, pois os pesquisadores ficam ilhados em seus estudos e já não têm mais contato com outras disciplinas. Sua linguagem é tão específica que se torna uma barreira na comunicação.
Este fenômeno se dá nas ciências exatas, biológicas e também nas ciências humanas, onde a capoeira se insere do ponto de vista filosófico. Se formos observar qual o diagnóstico da situação da prática da capoeira na atualidade, no Brasil e no mundo, iremos nos deparar com um vasto universo, rico em sua diversidade cultural, rítmica, performática, ideológica e em sua organização política. Convivem e dividem espaço, inúmeros “grupos” de capoeira de linhagens distintas, com filosofias distintas, com olhares para a capoeira bastante próprios e divergentes entre si em muitos aspectos. E por mais que atualmente os capoeiristas de linhagens distintas, a grosso modo, convivam bem entre si, cada mestre tende a querer sobrepor sua linhagem a do outro, em um constante embate ideológico e forte relação de poder. Da diversidade, surgem as adversidades. Cada mestre preocupa-se em propagar sua filosofia e sua visão sobre a capoeira como se esta fosse a única verdade, se esquecendo de que cada um, em maior ou menor dimensão também defende outra verdade, outro ponto de vista.
Neste sentido, a questão é, como podemos isolar nosso objeto de estudo de seu entorno, sendo que este entorno é justamente a razão de sua existência? Como posso valorar outros seres humanos desde meu ponto de vista se ele é somente um ponto de vista dentre tantos outros?
A transdisciplinaridade transgride as fronteiras disciplinares, possibilitando a comunicação e o intercâmbio de informações entre elas. O pensamento transdisciplinar é transgressor e revolucionário, pois permite a dissolução do poder da detenção dos conhecimentos nas mãos de alguns e  amplia os horizontes da realidade existente, a partir do entendimento de que mesmo os antagonismos se confundem e muitas vezes se completam.
Adotar o conceito da transdisciplinaridade como eixo orientador na prática da capoeira, não significa praticar todas as linhagens de capoeira ao mesmo tempo, até porque isso seria característico da multidisciplinaridade. Como definido anteriormente, o diferencial está em compreender o que está entre, através e para além das diversas vertentes de capoeira e desta forma, valorizar a importância de cada vertente ou estilo da capoeira instituído através da história.
Portanto, o que a Escola Aú Capoeira exerce, é muito mais um olhar para o mundo e para si, do que para a própria capoeira. Isso porque a compreensão transdisciplinar é a compreensão de que tudo na natureza interage, seja na natureza propriamente dita, ou mesmo nas criações do pensamento humano. No campo das ideias, assim como num ecossistema selvagem, tudo está constantemente interligado. Neste sentido, as várias linhagens de capoeira existentes não fogem a regra, e sempre conviveram e interagiram de alguma forma, influenciando umas as outras, mesmo sem querer. Por fim, em uma escola transdisciplinar, o foco deve ser a importância de se aprender a conviver na diversidade respeitando o outro e a si mesmo como partes de um todo.

FONTES TRANSDISCIPLINARIDADE:
NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade. Triom: São Paulo, 1999.

NASCIMENTO, Patricia Limaverde. Educação Transdisciplinar - O método da Escola VILA, de Fortaleza  Brasil.

MÉTODO DE ENSINO

A proposta pedagógica da Escola Transdisciplinar Aú Capoeira se fundamenta no estudo e prática da diversidade da capoeira como sua maior riqueza, sem a sobreposição de uma vertente à outra, mas sim na compreensão do papel de cada uma na história desta arte - capoeira. A prática pedagógica se dá na interação entre  diversas vertentes de capoeira difundidas na atualidade, de forma transdisciplinar, ou seja, compreendendo cada vertente como sendo uma disciplina, que deve ser estudada na interação com outras disciplinas. Neste sentido, as “verdades” do mundo da capoeira são compreendidas como manifestações de uma realidade e que devem ser estudadas e compreendidas em sua trajetória histórica a partir do olhar transdisciplinar.
O desenvolvimento das atividades relativas às vertentes trabalhadas dentro da escola se dá em núcleos específicos. Todos os núcleos são coordenados por mestre Pop, e subcoordenados por profissionais identificados e formados para focar o ensino de uma vertente de capoeira específica, porém o discurso é transcender os paradigmas e dicotomias existentes na capoeira há tanto tempo. Foram identificadas por mestre Pop, como foco do trabalho desenvolvido na Escola Aú Capoeira, três vertentes: vertente de mestre Pastinha, vertente de mestre Aberrê e vertente de mestre Bimba, esta última de acordo com a tradição da capoeira contemporânea, surgida no Rio de Janeiro na década de 60. Este trabalho, porém, não é uma reprodução vazia apenas do jogo e movimento, mas uma interpretação muito própria de mestre Pop, de acordo com suas vivencias e bagagem enquanto mestre.

       





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