A
visão holística da educação é um novo modo de relação do ser humano com o
mundo; uma nova visão do cosmos, da natureza, da sociedade, do outro e de si
mesmo.
UMA
VISÃO HOLÍSTICA DA CAPOEIRA
Por:
Mestre Pop
Assim como na medicina holística não se separa os órgãos de
nosso corpo por compreender-se que o corpo é um conjunto, e este conjunto
interligado é que proporciona seu pleno funcionamento, onde tudo está
relacionado, tudo está integrado numa perfeita simbiose, deste modo também
devemos contemplar o universo, onde tudo está integrado e tudo faz parte de uma
mesma estrutura. A visão disciplinar do mundo tem contribuído para que os
homens não percebam que tudo é uma coisa só e que ao destruir um ambiente estão
destruindo outros ambientes, ou seja, ao destruírem uma forma de vida destroem
outras também.
A visão holística nos permite contemplar um quadro para além
do artista que o pintou, pois ao olharmos o quadro identificamos outros
artistas e autores de igual importância. Estes autores estão invisíveis para
aqueles que olham somente a pintura materializada na tela, enquanto que pelo
olhar holístico e transdisciplinar iremos ver aqueles que trabalharam na
confecção da própria tela, dos pinceis da tinta, a madeira da moldura.
Tudo o que há na natureza, seja o homem, um minúsculo inseto,
uma molécula, ou até mesmo as imensas galáxias, são considerados o Todo, em
relação às suas partes constituintes. Porém este Todo está permanentemente
interligado com outros Todos, embora interdependentes, mas que no obstante
formam uma totalidade.
A visão holística e transdisciplinar nos permite integrar
todas as partes para que o Todo exista. Portanto ao reconhecermos que cada
parte é uma parte de um todo vamos entender que nada está separado, ou seja,
nada se sustenta sozinho.
Em geral, nas culturas humanas a fragmentação é uma
realidade. Tudo está separado e compartimentado em universos distintos, seja no
campo das ciências como das religiões e como também da capoeira. Somos uma
unidade separada pelas visões, sentimentos e crenças que nos impulsionam a
caminhada. Temos dificuldades de compreender, que somos parte de um todo. Criamos fronteiras geopolíticas e econômicas,
as fronteiras das crenças que estimulam o egoísmo e o individualismo, assim
como as estruturas político-partidárias que se relacionam através do embate de
força pelo poder, impulsionado pelas concepções ideológicas que alimentam os
conflitos humanitários. Não vamos para lugar algum ao permanecermos em nossos
terrenos protegidos por nossas crenças e pela visão restrita que temos da
realidade. Pois contemplamos a realidade apenas com nossos olhos ignorando
outros olhares, outras percepções e outros saberes. Razão pela qual somos
sectários.
E assim como os inúmeros micro e macro-universos existentes,
também o universo da capoeira se constitui fragmentado em múltiplos universos e
por inúmeras visões. Estas visões de uma mesma realidade se constituem em um
imenso paradoxo, onde cada mestre tem seu próprio universo. A leitura da
realidade a partir de uma visão disciplinar e fechada impossibilita estes
mestres de verem que a capoeira em sua multiplicidade é parte de uma mesma
realidade de um só universo. E como juntar as partes que se encontram
separadas, pelos conceitos, ideologias e praticas? Através da educação holística e
transdiciplinar.
Assim como os homens da ciência devem repensar a ciência,
frente a destruição promovida pelo
desenvolvimento cientifico tecnológico; assim como a escola deve entender que
seu papel é de contribuir na formação do ser humano integral e não do homem
compartimentado; assim também devem os mestres de capoeira repensar seu papel
na transmissão do conhecimento principiando de que não existe uma só realidade
- que é a sua-, mas que o universo da capoeira é repleto de diversidade e que é
esta diversidade que constitui a existência dos próprios micro-universos da
capoeira. Tudo é parte de uma mesma realidade inicial, ou seja, todas as
capoeiras têm origem numa mesma matriz que se fragmentou pelas circunstancias
históricas, mas acima de tudo, pela criatividade humana. Portanto cabe-nos
unir através da real compreensão- o que
está separado sem inibir a importância de cada parte, pois cada parte é imprescindível
para formar este imenso patrimônio cultural chamado “Capoeira”. É na
pluralidade que reside a unidade e somente uma mente liberta é capaz de
compreender a diversidade sem preconceito, discriminação e acima de tudo sem
prepotência ou arrogância.
Olhar e conceber a capoeira de forma não pragmática é fruto
de uma visão holística de uma realidade, onde se nega o saber de uns para a
supremacia do saber de outro, sem entanto compreender que os antagonismos
muitas vezes se confundem e até mesmo se completam.