Mestre
Pop, presidente e mentor da Escola Transdisciplinar Aú Capoeira, é natural de
Campo Grande – MS. Aprendeu capoeira com mestre Mano (Fernandinho), discípulo
de mestre Caiçara, em 1974. Chegou em Florianópolis em 1977, ano em que começou
a dar aulas de capoeira na cidade. Foi o pioneiro no ensino desta arte na
cidade e no estado de Santa Catarina, sendo um dos pioneiros também do Sul do
Brasil.Nestes 40 anos de capoeira, mestre Pop sempre teve um olhar “plural”
para esta arte, e se interessou em aprender as "capoeiras" que ia conhecendo,
ainda que fossem diferentes daquela que aprendeu com seu mestre, da vertente de
Aberrê.
Atualmente,
tem seu trabalho difundido no Brasil, Nova Zelândia e Malásia. Já foi
reconhecido e premiado diversas vezes nas esferas de governo Federal, Estadual
(SC) e Municipal (Florianópolis), tendo seu trabalho e sua história
reconhecidos nacional e internacionalmente.
Se
aprofundando mais...
No
olhar de mestre Pop o maior patrimônio da capoeira é a sua diversidade. Seja a
diversidade gestual, musical, rítmica, filosófica ou conceitual, pois na
diversidade encontra-se a sua riqueza. Para mestre Pop, pensar e ver a capoeira
através de um único ângulo é matar todas as possibilidades de enxergar o
universo da capoeira verdadeiramente como ele é. E estas idéias sempre
permearam a trajetória do mestre, e fizeram a sua história e o caminho a que
ele segue atualmente, tendo a transdisciplinaridade como eixo orientador de seu
trabalho.
Quanto
mestre Pop iniciou a prática da capoeira não imaginava a grandeza e a vastidão
de jeitos e maneiras diferentes de se jogar que viriam se constituir até a
atualidade. Em toda sua trajetória de prática de capoeira, sempre se
surpreendeu em conhecer uma maneira de jogar capoeira diferente daquela a que
ele conhecia e aprendera, e sempre interessou-se em aprender outra vertente também.
Neste sentido, sua trajetória é marcada por uma constante paixão por todos os
jeitos e maneiras de jogar capoeira, ao contrário do que acontece com a grande
maioria dos capoeiristas, que segue uma única vertente ou linhagem.
Mestre
Pop iniciou sua prática de capoeira em Campo Grande, Mato Grosso do Sul - sua
terra natal -, no ano de 1974, aos 21 anos, com mestre Gato de Sinhá e logo
depois com mestre Mano (Fernandinho), ambos alunos de mestre Caiçara, de
Salvador, da linhagem de mestre Aberrê, grande nome da velha guarda da capoeira
baiana.
Mas foi
na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina, dois anos mais tarde, que Pop
começou a ensinar a capoeira. Àquela época ensinava a capoeira que aprendeu e
que a ele não foi apresentada como angola ou regional, mas apenas como
capoeira. Era este o estilo que conhecia até inícios da década de 80: uma
capoeira jogada, vadiada, malevolente e muito eficiente e perigosa enquanto
luta. Mestre Pop foi o pioneiro no ensino da capoeira na cidade e no estado, e
montou a primeira associação de capoeira registrada juridicamente em Santa
Catarina, a Associação Cultural Berimbau de Ouro, seu primeiro grupo de
capoeira: Grupo Berimbau de Ouro.
E foi
neste período, no início na década de oitenta, que Pop teve contato com mestre
Squisito, aluno de mestre Tabosa (de Brasília), e que jogava uma capoeira na
linhagem e estilo do Grupo Senzala do Rio de Janeiro (atualmente conhecida como
capoeira contemporânea, que descende da capoeira regional de mestre Bimba).
Mestre Squisito, também de Brasília, passava por Florianópolis na ocasião e o
seu jeito de jogar, diferente da capoeira de Aberrê, chamou a atenção de Pop e
de certo modo o fascinou. Pop se surpreendeu com a movimentação exercida
naquela vertente, tão distinta da que aprendera. Foi então que ele se
interessou em também aprender aquele estilo de jogar. Mestre Squisito lhe
mostrou o básico e mestre Pop rapidamente assimilou e tomou para si a tal
capoeira, passando a praticá-la mais do que a que aprendeu com Fernandinho. A
partir daí Pop desenvolveu um trabalho muito forte dentro da vertente da
capoeira contemporânea.
Mas não
parou por aí. Descobriu o universo mágico da capoeira angola da linhagem de
mestre Pastinha em 1986, através de Mestre Miguel Machado, que embora não fosse
angoleiro de tradição, experimentou vivencias na escola de mestre João Pequeno
em Salvador e veio a Florianópolis com o intuito de realizar oficinas de
capoeira angola. Da mesma forma que ocorreu com a contemporânea, Pop teve
também experiências de aprendizagem desta capoeira angola, tão fascinante e
complexa em sua gestualidade e movimentação específica.
Neste
sentido, desde o início de seu trabalho mestre Pop se preocupou em não ficar
fechado a uma única vertente de capoeira. Já na primeira década de seu trabalho
pedagógico entre fins dos anos 80, mestre Pop chegou a desenvolver em suas
aulas, na época ministradas no espaço do SESC, duas vertentes de capoeira
simultaneamente: contemporânea e angola. Segundas e quartas ensinava
contemporânea e terças e quintas angola. Mas esta experiência foi breve e logo
mestre Pop se focou exclusivamente na capoeira contemporânea, a qual permaneceu
por mais tempo.
Mestre
Pop foi muito criticado na época, por trabalhar com mais de uma vertente de
capoeira, inclusive por muitos de seus alunos mais antigos. Mas para o mestre
isso nunca o impediu de mergulhar fundo no universo da capoeira, e sua sede em
aprender sempre mais e ampliar seus horizontes foram mais fortes, o
impulsionando em sua busca.
Mestre
Pop, já no inicio dos anos 1980, desenvolveu um intenso trabalho de divulgação
da capoeira junto à comunidade universitária e jovens da classe média/ alta de
Florianópolis. Foi um período em que começa a ganhar notoriedade e
reconhecimento público por diversos projetos desenvolvidos na área social,
cultural e esportiva. No início da década de 80, o Grupo Berimbau de Ouro muda de
nome e nasce o Grupo Nação Capoeira, que se expande inicialmente para o Rio
Grande do Sul e posteriormente para o Paraná e Rio de Janeiro. Por insatisfação
dos rumos do Grupo Nação, mestre Pop, em 1995, sai do mesmo para fundar a
Associação Cultural Aú Entidade Afro Brasileira e o Grupo Aú Capoeira, que da
mesma forma tem ramificações em outras cidades e grande número de adeptos. Em
2004, mestre Pop decide findar com o Grupo Aú Capoeira, por razões semelhantes
às que o levaram a sair do Grupo Nação, já o Grupo Nação permanece até hoje
coordenado por alguns de seus ex alunos.
Durante
grande parte de seu trabalho, no Grupo Nação e posteriormente no Grupo Aú,
mestre Pop embora focasse no ensino da vertente de capoeira contemporânea, não
se fechou de todo para a angola. Coordenou a Cia Zumba-ê-Brasil, com o
espetáculo Brasil Encantos Mil, o qual justamente mostrava a diversidade da
capoeira e o contraste entre a angola e a regional, além das manifestações afro
brasileiras presentes na cultura da capoeira: maculelê, samba de roda e puxada
de rede.
Mais
recentemente, após longa estrada em experiência de grupos de capoeira, e já
mais amadurecido enquanto mestre, voltou seu olhar novamente a sua capoeira
original, - a que aprendeu com Fernandinho e ensinou quando começou a dar
aulas. Isso se deu através, principalmente, de mestre Pinóquio, capoeirista
aluno seu, que manteve e reinventou o estilo que aprendeu com Pop. Novamente,
depois de anos, mestre Pop resolve voltar a ensinar a capoeira de mestre
Fernandinho, adaptada ao tempo e reinventada por Pinóquio, fruto da semente por
mestre Pop plantada quando começou a dar aulas, em 1977.
Esta
experiência se deu em uma academia no centro de Florianópolis, por volta do ano
de 2006. Cerca
de 26 anos após incorporar a capoeira contemporânea como foco de seu trabalho,
mestre Pop se vê novamente ensinando a capoeira de mestre Fernandinho, da
linhagem de mestre Aberrê e que ele recentemente denominou de capoeira do meio
(por não se enquadrar nos padrões nem angola e nem da regional –
contemporânea).
Neste
período também, no ano de 2007, mestre Pop retoma o trabalho do Aú Capoeira,
porém agora na perspectiva de escola e não mais de grupo. E foi neste período,
após muitas reflexões sobre sua própria trajetória e através do estudo do conceito
da interdisciplinaridade e posteriormente da transdisciplinaridade, que mestre
Pop percebeu que este conceito poderia ser aplicado à capoeira. Já que a
capoeira é formada por um vasto leque de vertentes e estilos, numa diversidade
que a torna tão rica culturalmente, porque escolher apenas um estilo ou
vertente para praticar? É quando mestre Pop decide que não iria ensinar uma
única vertente, mas sim aquelas que ele identificou dentro de um contexto
histórico de diáspora da capoeiragem antiga baiana. Queria que seus alunos
tivessem a oportunidade de conhecer e desenvolver a capoeira em sua pluralidade
cultural, na teoria e na prática. E assim, ele denominou sua escola de Escola
de Capoeira Transdisciplinar.
A
partir de então, mestre Pop ampliou cada dia mais o seu olhar para o mundo da
capoeira, através de muito estudo das vertentes instituídas, sua gestualidade,
musicalidade, princípios e acima de tudo sua essência. Atualmente são estudadas
e difundidas na escola, três vertentes de capoeira distintas. Todo este
trabalho, porém, não é uma reprodução vazia apenas do jogo e movimentos de cada
vertente, mas uma interpretação muito própria de mestre Pop, de acordo com suas
vivencias, trajetória e bagagem enquanto mestre de capoeira.
Escrito por: Paola Franco "Serena Capoeira"