Por: Solange Magalhães.
Existem momentos na vida em que a
questão de saber se podemos pensar diferentemente do que se pensa e perceber
diferentemente do que se vê torna-se indispensável para continuarmos a olhar ou
a refletir e, supostamente, caminhar. Essa ideia nos impele a questionar: podemos
olhar as coisas de forma diferente no contexto educativo? É possível percorrer
novos caminhos que nos revelem o que há de bom nas (inter) relações entre o conhecer
e a vida?Talvez o nosso caminhar rumo ao conhecimento pudesse ser menos
autoritário, livre do poder e da hierarquia, tornando-se mais leve, sem tantas
regras para proteger e administrar o saber; algo assim como o voo de uma
borboleta: despretensioso, delicado, sensível.
Esta é uma reflexão provocadora,
principalmente quando, na condição de professores e professoras, pensamos na
sala de aula.Seríamos capazes de pensar esse diferente? Seríamos capazes de
pensar uma educação que destaque a importância da afetividade e da
sensibilidade para os processos formativos? Essa educação poderia nos ajudar a
superar o modelo de pensamento linear sustentado em nossa sociedade? Afinal,
poderíamos permitir a percepção das nuances do vôo da borboleta quando temos
que perseguir tantos conteúdos, sistematizações e objetivos acadêmicos?Freire
(1996, p. 160) realçou que esta forma de educar representa um “educar
fascinante, comovente”, que também passa pela possibilidade de admirarmos e
celebrarmos a vida; notar sua beleza, sua complexidade e, através da
valorização da afetividade e da sensibilidade humanas, mas não exclusivamente
por meio delas, perceber que vivemos numa realidade totalmente interconectada, cinegética, sincrônica, portanto viva e ativa. Freire ainda esclareceu que,
para tanto, necessitaríamos estar vivendo num círculo de relacionamento que
permitisse a presença de espíritos livres, criativos, libertos da cadeia de
comando que assola e conforma nossa educação.
Para o autor, “[...] ensinar e
aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria [...]
a educação deve ser ‘estética e ética’” (Freire,1996, p. 26). Muito
provavelmente, precisaríamos também da convicção interior de que podemos rever
e superar nossos paradigmas, sempre na busca de soluções viáveis para as
difíceis questões humanas (Freire, 1996). As palavras de Freire tomam
concretude quando acreditamos que a forma como os sujeitos vão viver a sua
realidade e o modo como a transformam ligam-se, invariavelmente, à educação. Os
professores são conhecedores desta verdade, querem transformar a realidade;
trabalham para que seus alunos e alunas entendam como o conhecimento pode
afetar e influenciar a forma como vivem. Entretanto, a forma como os
professores valorizam e articulam os campos dos saberes depende de seus
processos formativos. Afetar e sensibilizar na educação: uma proposta... Infelizmente,
uma educação apoiada em um currículo que pensa a formação de maneira disciplinar
dificilmente abrirá espaços para que se possa trabalhar a afetividade e a sensibilidade,
mesmo reconhecendo-se a importância desses aspectos para a formação humana.
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