quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Afetar e sensibilizar na educação: uma proposta transdisciplinar



Por: Solange Magalhães.

Existem momentos na vida em que a questão de saber se podemos pensar diferentemente do que se pensa e perceber diferentemente do que se vê torna-se indispensável para continuarmos a olhar ou a refletir e, supostamente, caminhar. Essa ideia nos impele a questionar: podemos olhar as coisas de forma diferente no contexto educativo? É possível percorrer novos caminhos que nos revelem o que há de bom nas (inter) relações entre o conhecer e a vida?Talvez o nosso caminhar rumo ao conhecimento pudesse ser menos autoritário, livre do poder e da hierarquia, tornando-se mais leve, sem tantas regras para proteger e administrar o saber; algo assim como o voo de uma borboleta: despretensioso, delicado, sensível.

Esta é uma reflexão provocadora, principalmente quando, na condição de professores e professoras, pensamos na sala de aula.Seríamos capazes de pensar esse diferente? Seríamos capazes de pensar uma educação que destaque a importância da afetividade e da sensibilidade para os processos formativos? Essa educação poderia nos ajudar a superar o modelo de pensamento linear sustentado em nossa sociedade? Afinal, poderíamos permitir a percepção das nuances do vôo da borboleta quando temos que perseguir tantos conteúdos, sistematizações e objetivos acadêmicos?Freire (1996, p. 160) realçou que esta forma de educar representa um “educar fascinante, comovente”, que também passa pela possibilidade de admirarmos e celebrarmos a vida; notar sua beleza, sua complexidade e, através da valorização da afetividade e da sensibilidade humanas, mas não exclusivamente por meio delas, perceber que vivemos numa realidade totalmente interconectada, cinegética, sincrônica, portanto viva e ativa. Freire ainda esclareceu que, para tanto, necessitaríamos estar vivendo num círculo de relacionamento que permitisse a presença de espíritos livres, criativos, libertos da cadeia de comando que assola e conforma nossa educação.

Para o autor, “[...] ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria [...] a educação deve ser ‘estética e ética’” (Freire,1996, p. 26). Muito provavelmente, precisaríamos também da convicção interior de que podemos rever e superar nossos paradigmas, sempre na busca de soluções viáveis para as difíceis questões humanas (Freire, 1996). As palavras de Freire tomam concretude quando acreditamos que a forma como os sujeitos vão viver a sua realidade e o modo como a transformam ligam-se, invariavelmente, à educação. Os professores são conhecedores desta verdade, querem transformar a realidade; trabalham para que seus alunos e alunas entendam como o conhecimento pode afetar e influenciar a forma como vivem. Entretanto, a forma como os professores valorizam e articulam os campos dos saberes depende de seus processos formativos. Afetar e sensibilizar na educação: uma proposta... Infelizmente, uma educação apoiada em um currículo que pensa a formação de maneira disciplinar dificilmente abrirá espaços para que se possa trabalhar a afetividade e a sensibilidade, mesmo reconhecendo-se a importância desses aspectos para a formação humana.

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